Alta do Dólar Reflete Desconfiança do Mercado Sobre Política Fiscal e Pressiona Contas Públicas
O dólar atingiu a marca histórica de R$ 6,20 nesta terça-feira (17), refletindo a falta de confiança do mercado na capacidade do Governo Federal de conter os gastos públicos. A escalada da moeda americana já era esperada por analistas e foi agravada pela ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que indicou deterioração das expectativas de inflação e aumento da atividade econômica, mesmo com uma política monetária contracionista em vigor.
A insegurança dos investidores, combinada com o cenário fiscal incerto, fez com que a divisa norte-americana acumulasse uma valorização de 27,53% frente ao real neste ano. Em comparação, outras moedas de países emergentes, como o peso mexicano, apresentam desvalorizações mais moderadas, na casa dos 15,9%.
Por que o dólar está subindo?
Economistas consultados pela CNN apontam três principais fatores que impulsionam a alta do dólar:
- Desconfiança no pacote fiscal: O mercado demonstra ceticismo quanto à efetividade das medidas propostas pelo Governo Federal, que incluem um pacote de corte de gastos estimado em R$ 70 bilhões nos próximos dois anos. Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, afirma que a falta de planos concretos para redução de despesas gera um ambiente de insegurança. “Quando você gera desconfiança, investidores correm para ativos mais seguros, como o dólar e o ouro”, explica.
- Intervenções ineficazes do Banco Central: O Banco Central realizou leilões de dólar nesta semana para conter a alta da moeda, mas os efeitos têm sido limitados. Só nesta terça-feira, o BC disponibilizou US$ 2,015 bilhões, além dos US$ 3 bilhões ofertados na segunda-feira (16). Apesar da magnitude dessas intervenções, especialistas como Gusmão apontam que elas apenas aliviam a pressão no curtíssimo prazo, sem resolver os problemas estruturais que afetam o câmbio.
- Cenário externo desfavorável: Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos, destaca que a expectativa de um dólar forte globalmente, associada a uma possível reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos, pressiona ainda mais as moedas de mercados emergentes. “Seria uma reação natural, mas a desvalorização do real é mais acentuada do que a de outras moedas”, observa.
Impacto no mercado e nas contas públicas
O cenário atual se agrava com o aumento da taxa Selic, que foi elevada a 12,25% ao ano na última reunião do Copom. Isso aumenta os custos da dívida pública, uma vez que grande parte dela é indexada à Selic. “O aumento de juros é insustentável no atual cenário fiscal”, alerta Gusmão.
Além disso, o mercado aguarda com cautela a votação de projetos importantes no Congresso, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). A falta de consenso entre os poderes executivo e legislativo sobre a condução da política fiscal amplia o pessimismo.
Perspectivas para o futuro
Com o real apresentando uma das maiores desvalorizações entre moedas emergentes, o cenário para os próximos dois anos não é animador. A expectativa é de que o dólar continue pressionado, enquanto o mercado aguarda sinais mais claros de comprometimento fiscal por parte do governo.
“Falta uma sinalização clara do Executivo e Legislativo sobre como conduzir essa política fiscal. Nesse cenário, o Banco Central deveria ser mais reativo do que tentar conduzir a situação sozinho”, conclui Duarte.
Resumo: O dólar bateu R$ 6,20, impulsionado pela descrença no pacote fiscal, intervenções limitadas do BC e um cenário externo de fortalecimento da moeda americana. Enquanto as contas públicas continuam pressionadas, investidores buscam refúgio em ativos mais seguros, agravando a situação do real no mercado internacional.